Coxipó da Ponte

O Coxipó da Ponte de hoje em dia não sei como está.
Não sei como vivem seus habitantes: se alegres, felizes ou tristes e cheios de problemas.
Porém, sei como era o bairro de Coxipó da Ponte de priscas eras.
Isto é, de quando eu era ainda um menino e não sabia o que ia fazer da vida, quando crescesse.
Quanto a isso, confesso que até hoje ainda não sei.
Entretanto, o que atraía todos os nós, os moradores da capital do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, era o riozinho que ficava na divisa do bairro chamado por nós de Coxipó da Ponte.
O rio Coxipó da Ponte tinha a água tão cristalina que a gente conseguia ver os peixinhos nadando na correnteza.
Então, entrávamos nesse rio e ficávamos tomando banho, geralmente durante a tarde inteira, enquanto nossas mães lavavam roupa.
A água ia descendo rio abaixo (água desce rio acima? Claro que não! Trata-se, portanto, de uma graúda redundância), e nós descíamos também, aproveitando a força da correnteza.
Em alguns lugares conseguíamos êxito, porque conseguíamos driblar a força da água.
Mas em alguns lugares estratégicos devíamos tomar muito cuidado, porque a força da água era tanta, capaz de carregar uma criança.
A parte do rio que gostávamos de ir era logo adiante da ponte. Ali, a correnteza era sempre presente e podíamos brincar tranquilos enquanto nossas mães trabalhavam.
Hoje em dia o rio Coxipó da Ponte não deve existir nem sequer na memória de seus moradores, porque com certeza nasceram muito depois de o rio ter-se transformado em canal fétido de esgoto.
Aliás, é a prática que podemos notar em todos os nossos rios: eles estão se transformando, muito rapidamente, em canais de esgotos fedidorentos.
Com o passar do tempo não teremos mais rios.
Teremos apenas as lembranças dos rios que vemos hoje, assim como eu tenho a lembrança do antigo rio Coxipó da Ponte.
Ah, rio Coxipó da Ponte! Como eu sinto saudades de você.
Sobre mim
José Guimarães e Silva é autor do livro Companheiro de Viagem, escrito para contar a história de dois aventureiros malucos, que empreendem uma viagem mais ou menos maluca através do rústico sertão mato-grossense.
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